Fortunato é preto. Ele
sabe. Sempre olha pra sua pele tentando valoriza-la. Bom, muito bom.
Fortunato teve riquesas. Porta-voz do povo. Foi. Banqueteado,
elogiado, orgiado. Fortunato sempre foi de se empaturrar. Fortunato,
Fortunato, pede o que quiser que será contemplado. Fortunato gosta
de canetas, gosta de palavras, gosta de ramos e de rosas... brancas.
Fortunato é líder.
Gosta do reconhecimento, do momento e das glórias. É arrojado, é
mulherengo, é um preto nato. Fortunato pede ajuda. Pra se livrar das
enrascadas, não ser mais cumplices das enrabadas. Fortunato não é
tão bom de sacada. Infelizmente... Mas gosta de uma trepada. E tem
uma mulecada. Herdeiros de Fortunato não sabem nada. Fortunato deve,
deve e não ao santo agradece. Não agradecia. Agora agradece.
Fortunato é preto. Faz
questão. Levanta a mão. Faz obrigação. É preto, sim ou não?
Fortunato quer reconhecimento. Anda cuidando bem dos rebentos. Tem
neto. Exemplo correto ou quase. Fortunato retoma velhas alianças,
pois tudo aquilo que é colocado sempre é esquecido quando a
valorização é ato. Fortunato fala bem baixo. Conspiração.
Fortunato fala bem alto. Confusão. Fortunato sabe que o tempo urge.
Pressão, coração, solicitude. O que fazer, Fortunato? Não
conseguiu o seu trocado. Solidão. O que?
Não existe moral,
existe defesa da natureza. Nem que seja fodendo o outro, defende-se a
natureza. O valor, precisamos de valor. Precisamos transitar entre as
esferas e ter o nosso nome gravado na história. Safadeza, esperteza,
oportunismo, discórdia. Não importa! Repita comigo: Não importa.
Por que?
Porque não existe
moral. Aniquilaremos os nossos. Valorizaremos os nossos. Mataremos os
nossos.
Fortunato quer sobrar.
Ele e alguns seus. Até onde der. “Estarei sempre contigo,
Fortunato.” Disse o branco que perdeu a eleição. Talvez seja
isso...