domingo, 12 de abril de 2015

HIP HOP SE MANIFESTA


Não vamos para rua com a direita!

Recentemente temos observado posicionamentos favoráveis de integrantes da cultura Hip Hop ao movimento “Vem pra Rua”, apoiando e incentivando a adesão a este movimento que teve certa repercussão a partir de passeatas realizadas em diversas cidades do Brasil no dia 15 de Março de 2015. Este movimento liberal e proto-fascista tem como pautas o Impeachment da presidente Dilma, a redução da maioridade penal, a terceirização dos serviços, intervenção militar, a criminalização de movimentos populares combativos, a mercantilização da vida, dentre muitas outras pautas de cunho absolutamente antidemocrático e antipopular. 

Por isso, entendemos que o discurso da “liberdade de expressão” utilizado por muitos MC´s e demais agentes da cultura ao mesmo tempo em que tentam se esquivar de responsabilidades diretas sobre os fatos em última instância faz jus às políticas empreendidas por setores empresariais, bancada evangélica, forças armadas e demais segmentos antidemocráticos. 

Devemos ressaltar que a cultura Hip Hop ao apoiar este âmbito de disputas políticas fortalece setores que historicamente lutaram e lutam contra os fundamentos da cultura de rua como a luta pela democracia direta, a luta contra o genocídio negro, a luta contra o patriarcado e as lutas a favor das liberdades coletivas e individuais. 

Outro fator que devemos ressaltar é a intensa luta entre classes antagônicas que se tornou ainda mais evidente a partir de grandes movimentações populares nas Jornadas de Junho de 2013, quando vimos de perto a ação truculenta do Estado contra a população que exigia direitos constantemente tragados pelo grande capital financeiro e pelo Estado democrático de direitos, que se manifesta na prática como Estado de exceção. 

Essa luta colocou em crise inclusive a representatividade de partidos de esquerda burocráticos que desde seus lugares fortalecem direta ou indiretamente as políticas de Estado, não se diferenciando na prática de setores conservadores de direita. Por isso, queremos ressaltar que o movimento Hip Hop deve ser livre e para tal deve reaver a luta contra diversas formas de opressão praticadas historicamente pela estrutura do capital e suas formas de poder. 

A gente quer ir pra rua, mas não vamos para a rua junto com os militares, não vamos para a rua junto com as armas do Estado. Quem organiza Rodas de Rima, quem circula favelas, quem circula os meios e os espaços onde tá o Hip Hop sabe que a polícia não é amiga do Hip Hop. O Hip Hop está aí para questionar essa ordem! 

Não estamos junto de pessoas que por introjetar o medo construído pelos discursos midiáticos burgueses tornam-se a favor da militarização dos espaços públicos cerceando ainda mais as manifestações culturais da juventude e demais setores populares. Dessa forma, convidamos todos que compõem a cultura Hip Hop a pensar criticamente a conjuntura política atual de forma a nos associar em organizações que se contraponha e efetive na prática ações antagônicas ao conservadorismo burguês.

Assinam este manifesto:
Carta na Manga (Rio de Janeiro) ; Dumatu (João Pessoa) ; Menestréis MC´s (João Pessoa) ; Arthur Moura – 202 filmes (Niterói - RJ) ; Antiéticos (Rio de Janeiro) ; Paulo Napoli (Fortaleza) ; Totoin Antonio Carlos (Minas Gerais) ; Djoser Botelho Braz (Rio de Janeiro) ; DJ Erik Scratch (Rio de Janeiro) ; Marco Monte Cafus (Fusca) (Rio de Janeiro) ; DJ Machintal (Niterói - RJ) ; GoriBeatzz (Rio de Janeiro) ; Alvaro Neto (Niterói - RJ) ; Dropê Comando Selva (Rio de Janeiro) MV Hemp (Rio de Janeiro) ; DJ Kong (Rio de Janeiro) André Tertuliano (Rio de Janeiro) ; Gerard Miranda e Coletivo CIC (João Pessoa) ; Gustavo Pontual (Recife) ; Elton Kurtis (São Paulo) ; Roberto Camargos (Uberlândia) ; Issa Paz (São Paulo) ; Rôssi Alves (Rio de Janeiro) ; Comunidade Rap Feminino ; NJ Sallez (Rio de Janeiro) ; Lepô comando selva confirmar ; Rico Comando Selva confirmar (Rio de Janeiro) ; Emilio Domingos (Rio de Janeiro) ; Marcos Favela (Mogi das Cruzes – São Paulo) ; Fábio Emecê (Rio de Janeiro) ; Aline Pereira – Roda Cultural do Engenho do Mato (Niterói- RJ) ; Davi Baltar (Niterói – RJ) ; Camila Rocha (João Pessoa) ; A-Lex Remanescente emcee Coletivo CGZOO, Projeto Bínário, Nação HipHop Brasil célula/PB ; MC Slow (Rio de Janeiro) ; Gabriel Kopke Gael (Rio de Janeiro) ; Beição ejc (Rio de Janeiro) ; Wallace Carvalho (Fluxo; Planodois) (Rio de Janeiro)

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Preto I


Dizer que é difícil ser homem preto pode ser clichê para o público alvo desse texto. Só que talvez não tenha público alvo por justamente uma das dificuldades de ser homem preto é a solidão que os acadêmicos chamam de solidão epistemológica.
Ideias e planos que passam sem legitimidade nos contextos nos quais tentamos nos inserir e consequente garganta doída por gritar em vão. Bem, se agarrar no penúltimo degrau da pirâmide reforçando estereótipos seculares me incomoda, e como.
Eu canso quando fodo porque qualquer corpo cansa quando fode e meu pau, ah, meu pau não importa muito, não sou garantia de gozos intensos e constantes e isso não resume minha complexidade que acaba sendo não complexa por imposição.
Qualquer proposta de enfrentamento coletivo da comunidade preta passa por desvencilhamentos das armadilhas impostas pelo projeto colonizador tão bem calcado nas nossas almas, corpos e intelectos.
A cachaça e a maconha nunca vai ser suficiente pra disfarçar minha fragilidade diante do enfrentamento da voz dominante e a possibilidade de cura nunca vai passar pela disputa da fala com outro homem preto.
Vai, seja o pirocudo da vez, isso definitivamente não me importa. E nem ser o pretenso sedutor pras pretas. Quero atos coletivos contra a supremacia branca. Tá difícil? Atos coletivos contra a supremacia branca poderia ter base no afeto que trocamos uns com os outros.
Afeto... lutamos pra não ser exterminados e lutamos pra permanecer num território que nunca foi nosso, acabou sendo e hoje não nos querem lá. Tiros na cabeça e pirocas duras nos rodeiam e nos aprisionam.
E as pretas? Reconhecer a preta como a mãe casta e fiel só já bastou e o choro me consome apesar de não conseguir sair muitas lágrimas pra salgar essa carne dolorida de sentidos impostos nos hemisférios de descontrole social.
Porra, outra hora continuo...