segunda-feira, 6 de abril de 2015

Preto I


Dizer que é difícil ser homem preto pode ser clichê para o público alvo desse texto. Só que talvez não tenha público alvo por justamente uma das dificuldades de ser homem preto é a solidão que os acadêmicos chamam de solidão epistemológica.
Ideias e planos que passam sem legitimidade nos contextos nos quais tentamos nos inserir e consequente garganta doída por gritar em vão. Bem, se agarrar no penúltimo degrau da pirâmide reforçando estereótipos seculares me incomoda, e como.
Eu canso quando fodo porque qualquer corpo cansa quando fode e meu pau, ah, meu pau não importa muito, não sou garantia de gozos intensos e constantes e isso não resume minha complexidade que acaba sendo não complexa por imposição.
Qualquer proposta de enfrentamento coletivo da comunidade preta passa por desvencilhamentos das armadilhas impostas pelo projeto colonizador tão bem calcado nas nossas almas, corpos e intelectos.
A cachaça e a maconha nunca vai ser suficiente pra disfarçar minha fragilidade diante do enfrentamento da voz dominante e a possibilidade de cura nunca vai passar pela disputa da fala com outro homem preto.
Vai, seja o pirocudo da vez, isso definitivamente não me importa. E nem ser o pretenso sedutor pras pretas. Quero atos coletivos contra a supremacia branca. Tá difícil? Atos coletivos contra a supremacia branca poderia ter base no afeto que trocamos uns com os outros.
Afeto... lutamos pra não ser exterminados e lutamos pra permanecer num território que nunca foi nosso, acabou sendo e hoje não nos querem lá. Tiros na cabeça e pirocas duras nos rodeiam e nos aprisionam.
E as pretas? Reconhecer a preta como a mãe casta e fiel só já bastou e o choro me consome apesar de não conseguir sair muitas lágrimas pra salgar essa carne dolorida de sentidos impostos nos hemisférios de descontrole social.
Porra, outra hora continuo...



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