domingo, 11 de agosto de 2013

Eu amo o Hip Hop, ainda!


Por Fábio Emecê



O que estamos pensando atualmente quando se trata de Hip Hop? E o que não estamos pensando?

Questões de contingência a parte, a diluição de atos informativos não permitem que nós tenhamos consistência diante que está acontecendo diante de nossos olhos. O que tá acontecendo, mesmo?

Construção de referência! Talvez seja o grande legado do Hip Hop Brasileiro. Jovens, pretos relegados a segundo, terceiro plano em nível de assistência estatal, descobrindo em forma artistíca a reivindicação e posicionamento político como fundamental para o enfrentamento.

Entenda isso como pessoas que não aceitam exatamente a normatização escolar, institucional e midiática e começam a evidenciar essa insatisfação. E não só isso, propõe novas formas de enxergar e viver no território, inclusive com a alusão a boicote de marcas que não os favoreciam e sempre atrelando o conhecimento como fundamental no processo de sobrevivência e vivência.

Lembro do brilho dos meus olhos quando descobri pessoas parecidas comigo, expressando seu descontentamento diante do caos sistêmico, através do Hip Hop e internalizar: era isso que precisava. Precisava pra gritar, ajudar, propor, enfrentar.

Consequências plausíveis dessa aceitação: Ser preto, deixar o cabelo se desenvolver, assumir a paixão pelos livros, enfrentar a timidez, olhar nos olhos do outro e viver em coletivo.

O conhecimento que tive, aderindo ao Hip Hop está se diluindo? Sei lá, há um descrédito em relação a se ter uma manifestação artística a favor daqueles que estão na parte de baixo da balança. Como se essa manistestação estivesse por demais saturada de defender aqueles que são indefensáveis.

Como se fosse obrigação aceitar que as pessoas tendo acesso ao consumo e ao bombardeio de informações é suficiente para ser formar bons cidadãos e para se alcançar esse patamar, depende basicamente de seu esforço individual. A famosa tríade foco, força e fé se torna mantra e esconde toda a perversidade de aceitar que o topo só é para alguns e quem não está no topo é porque não se esforçou o suficiente.

Sei lá, aprendi outra coisa com os mesmos que hoje dizem que temos que amenizar e aceitar as vantagens que o sistema oferece. Penso que aceitar essas vantagens é compactuar com o extermínio físico e psíquico da nossa juventude e ser tolerante e até mesmo achar normal o que acontece é perceber que a identidade, justamente a nossa identidade, não importa muito, desde que estejamos cercados de holofotes e badaluques.

Sinceramente, não é que quero pra mim, não é que quero pros meus, não é que almejo pra minha arte. Mesmo sabendo que meu olhar é meu olhar e se tem uma particularidade nisso, penso na fala do Doutor em Geografia Milton Santos, perguntado se ele tinha conseguido alcançar o que ele queria, ao final da vida, se ele tinha se tornado um cidadão. Enfático, disse que ele não era cidadão porque os semelhantes a ele não o eram.

O topo é pra todos e se todos estiveram no pódio e o mesmo não aguentar, que se caia e que todos estejam na horizontal. Precisamos de um contra-ponto, precisamos de uma resposta e de entendimento que toda cultura periférica é gerada para que o periférico tenha voz e poder. E ter voz e poder é significamente empoderar e amplificar seu semelhante.

Se o Hip Hop tá fugindo disso, tá na hora de mostrar que existem mulheres e homens que ainda acreditam. Eu acredito e você?



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