sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Dia de Consciência


Dia 20 de novembro é ainda um dia controverso nosso calendário, pois a ideia de ser um dia para se pensar a historiografia dos pret@s no Brasil é absurda. História nossa tão controversa e dissimulada que precisa de lei no século XXI para contar quem nos formou.

Em 20 de novembro de 1695, Zumbi dos Palmares foi assassinado pela tropa de Domingos Jorge Velho, bandeirante, e sua cabeça foi levada para o centro de Recife para ser exibida as pessoas como recado a não se fazer o mesmo, não importa que situação seja.

Uns poderiam vociferar: “É criminoso, merece isso mesmo! ”. Pois é, se insurgir contra o governo colonial era considerado crime, mas diante daquilo que pensamos, todo regime que é injusto para aqueles nos quais são regidos, é próprio de desobediência. E escravidão é uma forma injusta por si só.

Agora com os devidos filtros, não feitos por nós, pret@s, a associação de criminoso com a cor da pele ainda é recorrente, tanto que temos em média 124 assassinatos por dia, sendo mais da metade de pret@s e tudo parece corriqueiro.

Pense que o medo das elites em se ter revoltas e revoltas, formação de quilombos e seus esforços bélicos quase que magistrais para elimina-los, pois o haitianismo* não poderia contaminar os pret@s por aqui. E pense, vivemos numa região que tem pelo menos 10 comunidades remanescentes de quilombos.

Imagina a circulação de pret@s por aqui, o que foi construído, o que foi celebrado, o que foi deixado e pergunte-se: “Eu sei disso? ” E onde que estão os pret@s hoje, o que eles fazem, onde eles circulam, onde eles trabalham, qual é a importância deles para o nosso contexto?

Aí chegamos no ponto chave: Por que dia da Consciência Negra? Para se pensar exatamente quais são os papeis dos cidadãos no contexto do Brasil e o quanto eles são valorizados e valorados diante de sua cor da pele. Olhe para a sua volta: Qual é a cor do seu chefe? Qual é a cor do auxiliar de serviços gerais?

Quantos cômodos tem sua casa? Quantos cômodos tem a casa de alguém de cor diferente da sua? Conhece alguém que sofreu alguma violação policial? Alguém que teve um amigo, um parente assassinado por qualquer intervenção estatal? Qual era a cor da pele dessa pessoa?

A Consciência Negra é para pensarmos na maneira como se classifica as pessoas e seus direitos e que ainda é pautado fortemente pela cor da sua pele. Mesmo você negando, os pret@s tão morrendo, estão sendo assassinados e estão sendo privados de exercerem seus direitos plenamente.
Enfim, mais um dia 20 de novembro e estamos vivos, ah, como estamos!


*Haitianismo é um termo usado pelas elites no século XIX em alusão a Revolução Haitiana. O Haiti foi o primeiro país das Américas a se desvincular do poder colonial, no caso, o francês, mas com uma diferença básica: A desvinculação foi guiada 100% por pret@s.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O Hip Hop também pode ser isso


O que é o Hip Hop? Existem regras e mandamentos? Existe um caminho fixo a se seguir? Bom, dentro de um consenso, o Hip Hop é um movimento com 4 elementos ou expressões artísticas. Rap, DJ, Grafiti e Break. Alguns adicionam o conhecimento como quinto elemento e assim as pessoas vão desenvolver determinadas habilidades, discursos e cadências.
Entendendo o conhecimento como fundamental para se desenvolver o Movimento Hip Hop, tem – se que se ter conhecimento de que? Cada elemento precisa de um domínio específico de determinada área da inteligência.
O rap precisa basicamente da sua habilidade de comunicação. Quantas palavras você comporta e como você as usa. O DJ precisa do uso das mãos e a seus ouvidos para saber a música que vai colocar de forma sequenciada. O grafiteiro precisa ter noção de espaço e de formas geométricas, simétricas, assimétricas ou qualquer forma para fazer o seu desenho. O break precisa do corpo e a sincronia de braços e pernas para fazer o movimento específico.
Todos os elementos precisam de uma cadência. De um ritmo em que se vai encaixar suas habilidades. A cadência do Hip Hop é o 4 x 4, então o Hip Hop sem o 4 x 4 não é Hip Hop. O mc precisa, o Dj precisa, o Break precisa e o grafite precisa, no caso, de forma implícita, pois o desenho não precisa de música, só que o grafite obedece uma linha construtiva bem própria.
Quais seriam os mandamentos básicos do Hip Hop? Então, no meu caso, aprendi a ser preto, por conta do Hip Hop. Via artistas pretos falando sobre racismo, preconceito, líderes e revoltas. Tive uma lógica de pertencimento e consequente orgulho.
Como sou mc, tentei passar isso para minhas letras e não só isso, entendi que seria uma plataforma de identidade com relação a luta contra as opressões. Uma ótima plataforma, aliás. Agora, é uma regra geral ou mandamento? Não, não precisa ser.
Agora entender o Hip Hop como plataforma que está linkada com o Mundo que vemos e o Mundo que queremos é fundamental. Entender o Hip Hop como um movimento artístico e que todo movimento artístico tem fundamentação para se modificar pensamentos e comportamentos é fundamental.
Entender-se como agente político e que sua atuação vai fazer as coisas caminharem para tal situação também é fundamental. Logo se você é praticante do Hip Hop, você tem uma responsabilidade com relação a realidade e seus alcances.
A grande sacada do conhecimento está em entender que a pulsão artística não é limitada a um grupo de pessoas, todos podem ter essa habilidade e desenvolve-la. O Hip Hop é um movimento artístico agregador em sua essência. Sendo agregador, as relações e as pulsões não podem necessariamente seguir aquilo que é excludente.
Enfim, o Hip Hop é todos, para todos. Só que tem se desenvolver, e como tem...