segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Podcast N° 6
Bloco 1
1 - Actual Proff - The Look
2 - Mac Miller - Good Evening
3 - Orelha Negra - Saudade
Bloco 2
1 - Joy Division - Transmission
2 - Medulla - Eterno Retorno
3 - El Efecto - Conforme a Música
Bloco 3
1 - Chico Man - Harmonia
2 - Alienação Afrofuturista - O Povo contra A.A
3 - Flying Lotus Feat Andreya Triana - Tea Lef Dancers
Bloco 4
1 - Terra Preta - Crises
2 - Illa J - Swagger
3 - Karol de Souza - Pro que eu maizamo
domingo, 30 de janeiro de 2011
sábado, 29 de janeiro de 2011
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Pedofolia 2011 - Texto de Clovis Bate Bola
A assessoria de comunicação do PEDOFOLIA 2011 informou em nota hoje a tarde que já estão esgotados os abadás para a folia que movimenta o interior do Estado do Rio de Janeiro.
Segundo a nota, um empresário arrematou sozinho todos os abadás que garantem a entrada do disputado camarote VIP do PEDOFOLIA. Cada abadá VIP custa o valor de R$300,00 por noite.
Um PEDOFOLIÃO, sem poder comprar os Abadás VIP, teve de se contentar com a PIPOCA (nome dado ao setor onde ficam todos os PEDOFOLIÕES em volta do trio elétrico) e se diz satisfeito com a folia deste ano. Segundo ele, a cada noite tem conhecido novas pessoas na pipoca e experimentado novas emoções.
"Eu não tinha como pagar R$300,00 por noite para ficar no camarote VIP do PEDOFOLIA. Mas, já estou até gostando de pipocar em volta do trio. É tanta gente te pipocando toda noite que você acaba se acostumando. " Disse o pedofolião.
O PEDOFOLIA é uma micareta que agita o interior do Rio de Janeiro todo ano e já contou com a participação de empresários, secretários e até prefeitos.
OBS: Não há nenhuma relação dessa postagem "bem humorada" com o CABOFOLIA.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Pare o "estupro corretivo"
"O estupro corretivo”, a prática cruel de estuprar lésbicas para “curar” sua homossexualidade, está se tornando uma crise na África do Sul. Porém, ativistas corajosas estão apelando ao mundo para pôr fim a estes crimes monstruosos. O governo sul africando finalmente está respondendo -- vamos apoiá-las. Assine a petição e divulgue para os seus amigos!
Millicent Gaika foi atada, estrangulada, torturada e estuprada durante 5 horas por um homem que dizia estar “curando-a” do lesbianismo. Por pouco não sobrevive
Infelizmente Millicent não é a únca, este crime horrendo é recorrente na África do Sul, onde lésbicas vivem aterrorizadas com ameaças de ataques. O mais triste é que jamais alguém foi condenado por “estupro corretivo”.
De forma surpreendente, desde um abrigo secreto na Cidade do Cabo, algumas ativistas corajosas estão arriscando as suas vidas para garantir que o caso da Millicent sirva para suscitar mudanças. O apelo lançado ao Ministério da Justiça teve forte repercussão, ultrapassando 140.000 assinaturas e forçando-o a responder ao caso em televisão nacional. Porém, o Ministro ainda não respondeu às demandas por ações concretas.
Vamos expor este horror em todos os cantos do mundo -- se um grande número de pessoas aderirem, conseguiremos amplificar e escalar esta campanha, levando-a diretamente ao Presidente Zuma, autoridade máxima na garantia dos direitos constitucionais. Vamos exigir de Zuma e do Ministro da Justiça que condenem publicamente o “estupro corretivo”, criminalizando crimes de homofobia e garantindo a implementação imediata de educação pública e proteção para os sobreviventes. Assine a petição agora e compartilhe -- nós a entregaremos ao governo da África do Sul com os nossos parceiros na Cidade do Cabo:
https://secure.avaaz.org/po/stop_corrective_rape/?vl
A África do Sul, chamada de Nação Arco-Íris, é reverenciada globalmente pelos seus esforços pós-apartheid contra a discriminação. Ela foi o primeiro país a proteger constitucionalmente cidadãos da discriminação baseada na sexualidade. Porém, a Cidade do Cabo não é a única, a ONG local Luleki Sizwe registrou mais de um “estupro corretivo” por dia e o predomínio da impunidade.
O “estupro corretivo” é baseado na noção absurda e falsa de que lésbicas podem ser estupradas para “se tornarem heterossexuais”, mas este ato horrendo não é classificado como crime de discriminação na África do Sul. As vítimas geralmente são mulheres homossexuais, negras, pobres e profundamente marginalizadas. Até mesmo o estupro grupal e o assassinato da Eudy Simelane, heroína nacional e estrela da seleção feminina de futebol da África do Sul em 2008, não mudou a situação. Na semana passada, o Ministro Radebe insistiu que o motivo de crime é irrelevante em casos de “estupro corretivo”.
A África do Sul é a capital do estupro do mundo. Uma menina nascida na África do Sul tem mais chances de ser estuprada do que de aprender a ler. Surpreendentemente, um quarto das meninas sul-africanas são estupradas antes de completarem 16 anos. Este problema tem muitas raízes: machismo (62% dos meninos com mais de 11 anos acreditam que forçar alguém a fazer sexo não é um ato de violência), pobreza, ocupações massificadas, desemprego, homens marginalizados, indiferença da comunidade -- e mais do que tudo -- os poucos casos que são corajosamente denunciados às autoridades, acabam no descaso da polícia e a impunidade.
Isto é uma catástrofe humana. Mas a Luleki Sizwe e parceiros do Change.org abriram uma fresta na janela da esperança para reagir. Se o mundo todo aderir agora, nós conseguiremos justiça para a Millicent e um compromisso nacional para combater o “estupro corretivo”:
https://secure.avaaz.org/po/stop_corrective_rape/?vl
Está é uma batalha da pobreza, do machismo e da homofobia. Acabar com a cultura do estupro requere uma liderança ousada e ações direcionadas, para assim trazer mudanças para a África do Sul e todo o continente. O Presidente Zuma é um Zulu tradicional, ele mesmo foi ao tribunal acusado de estupro. Porém, ele também criticou a prisão de um casal gay no Malawi no ano passado, e após forte pressão nacional e internacional, a África do Sul finalmente aprovou uma resolução da ONU que se opõe a assassinatos extrajudiciais relacionados a orientação sexual.
Se um grande número de nós participarmos neste chamado por justiça, nós poderemos convencer Zuma a se engajar, levando adiante ações governamentais cruciais e iniciando um debate nacional que poderá influenciar a atitude pública em relação ao estupro e homofobia na África do Sul. Assine agora e depois divulgue:
https://secure.avaaz.org/po/stop_corrective_rape/?vl
Em casos como o da Millicent, é fácil perder a esperança. Mas quando cidadãos se unem em uma única voz, nós podemos ter sucesso em mudar práticas e normas injustas, porém aceitas pela sociedade. No ano passado, na Uganda, nós tivemos sucesso em conseguir uma onda massiva de pressão popular sobre o governo, obrigando-o a engavetar uma proposta de lei que iria condenar à morte gays da Uganda. Foi a pressão global em solidariedade a ativistas nacionais corajosos que pressionaram os líderes da África do Sul a lidarem com a crise da AIDS que estava tomando o país. Vamos nos unir agora e defender um mundo onde cada ser humano poderá viver livre do medo do abuso e violência.
Com esperança e determinação,
Alice, Ricken, Maria Paz, David e toda a equipe da Avaaz
Leia mais:
Mulheres homossexuais sofrem 'estupro corretivo' na África do Sul:
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/12/09/mulheres-homossexuais-sofrem-estupro-corretivo-na-africa-do-sul-915119997.asp
ONG ActionAid afirma que "estupros corretivos" de lésbicas na África do Sul estão aumentando:
http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/lifestyle/2010/03/22/243215-ong-actionaid-afirma-que-estupros-corretivos-de-lesbicas-na-africa-do-sul-estao-aumentando
Acusados de matar atleta lésbica são julgados na África do Sul:
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,acusados-de-matar-atleta-lesbica-sao-julgados-na-africa-do-sul,410234,0.htm
As mulheres – mar
Sempre tive medo do mar
medo não, receio
pois ele sempre foi bom com o alheio
e eu burro, sempre quis enfrentar
me apaixonei intensamente
por mulheres que veneram o mar
e sempre de alguma forma
tive que me privar
o que eu faço é caminhar
um simples corpo escultural
vozes em cadência
segredos abertos
e os muros de concreto
caídos
repletos
de maresia
minha pele queima
não usam protetor
elas mergulham
e se se afogarem
acho que irão morrer
não sei nadar
não sei proteger
meu olho em queda
meu coração não é de pedra
tesão acumulado
ainda não tenho nenhum membro perfurado
apenas uma alma sincera
uma persona inquieta
apaixonado por mulheres
que adoram o mar
irão sempre me enfrentar
e vão voltar
como o mar
mas eu sei que talvez não molhe mais meus pés...
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Move!
Sempre penso que movimentos são mútuos
e que a espera
não é apenas mero capricho
não é um regojizo
aparenta ser síndrome de narciso
ou apenas um apontamento
de ações que são perto de falhas
acho que o que eu penso
não tem muito sentido
quando nos deparamos com o motivo
importantíssimo
o momento do choro
o instante do gozo
e qualquer movimento concentrico
olha o movimento
ele aí de novo
pedindo o acompanhamento
quer andar de fato?
beijar de fato?
ou qualquer coisa?
responde po
ha
a mutualidade entrou em suspensão.
sábado, 22 de janeiro de 2011
PENIS PASSION
Trabalhando num poema inspirado pela alegria de fazer sexo no menor estúdio do mundo sentada sobre um velha poltrona pintada de vermelho onde passo a maior do tempo escrevendo, busco por palavras para descrever a sensação de sentar ao colo da doce luxúria movendo meu corpo para trás e para frente contra o delicioso, quente e úmido pênis de meu amante A. Entre os pênis que vi e toquei neste mundo, o dele é que me dá maior sensação de prazer. No entanto, é difícil encontrar palavras para descrever o prazer que sinto que não perpetuem o convencional pensamento sexista sobre o pênis.
Mulheres encontrando e expressando prazer no corpo masculino durante muito tempo foi um tabu completo. Antes do movimento feminista e da liberação sexual contemporâneos, nós mulheres não falávamos muito a respeito de nossos sentimentos sobre o pênis. Sem dúvida então que quando nós finalmente demos a nós mesmas permissão para falar o que quiséssemos sobre o corpo masculino – sobre a sexualidade masculina – nós ficávamos ou em silêncio ou meramente ecoávamos narrativas que já estavam em uso.
No final dos anos 60 e início dos 70, mulheres heterossexuais ativas no movimento feminista falavam frequentemente de forma corajosa e orgulhosamente sobre o pênis, usando a mesma linguagem de conquista sexista que homens usavam quando falavam de suas caçadas sexuais. Naqueles dias nos grupos de elevação da consciência feminista, nós não somente conversávamos a respeito de como mulheres tinham se tornado mais confortáveis com palavras como “boceta” e “xoxota”. Desse modo, homens não poderiam nos estarrecer ou nos envergonhar ao manejar essas palavras como armas, nós também tínhamos que ser hábeis em falar sobre “paus” e “pintos” com a mesma facilidade. A liberação sexual já tinha nos dito que se quiséssemos satisfazer um homem tínhamos que nos tornar confortáveis com “chupetas”, de ir fundo com o pau em nossa garganta até o ponto que machucasse. Desistindo de nossa agência sexual, tínhamos que aceitar a dor a fingir que ela era na verdade prazer.
Intervenções feministas sobre a questão da sexualidade, junto com um sofisticadas formas controle de natalidade, mudaram isto. Era dito as mulheres que queriam ficar com homens que nós tínhamos o direito de definir o lugar do prazer para nós e a vontade de afirmar nossos direitos sexuais. Isto nos fez entender que não tínhamos que consentir com a força ou fingir apreciar dor. Isto nos fez entender que o pênis não era uma cobra de um olho só saindo do bolso de uma calça no jardim do júbilo sexual, ameaçando transformar nossos corpos em um lugar em que a dor define, penetra e pune. Não precisávamos vê-lo [o pênis] como inimigo.
Como muitas jovens que chegaram à idade naquele intenso e extasiante momento quando liberação sexual e movimento feminista convergiram, eu também deixei de lado o medo do pênis que assombrou minha infância. Esses medos estavam enraizados não em inveja do pênis ou do corpo masculino, mas na raiva de que ele tinha que ser temido. Naqueles dias a mensagem sobre o corpo masculino que mulheres recebiam alto e claro era que, quisessem ou não, a penetração poderia mudar a vida de uma garota para sempre. Ela nunca mais seria a mesma; ela nunca seria boa/pura outra vez. Lembro-me da pura felicidade que o controle de natalidade nos ofereceu. Ele significava que não tínhamos que temer o pênis. Podíamos aceitar nossa curiosidade sobre ele, nossas dúvidas e nossa paixão.
Quando garotinha eu pensava no pênis como uma varinha mágica. Mágica porque ele poderia se mover e mudar a sua forma; sementes poderiam sair dele e chegariam a vida dentro do corpo de uma mulher. Eu só tinha visto o pênis de um bebê – não era inveja que eu sentia, mas curiosidade. Eu temia por ele e sua varinha mágica, tão exposta, tão fácil de ferir e machucar. E como tantas garotas já testemunharam, eu estava aliviada que meus genitais femininos não eram para fora, expostos, visíveis.
Este senso de fascinação e apreciação infantil do pênis mudou quando avisos sobre o perigo sexual e a ameaça que o corpo masculino destruiria a inocência feminina tornou-se a norma. Naqueles dias não havia nenhuma discussão sobre paixão feminina. Em meu imaginário sexual a varinha se transformou em arma, somente homens a usavam para nos rebaixar, nos destruir.
Sem dúvida que mulheres se maravilharam quando controle de natalidade e a insistência feminista sobre agência sexual feminina tornaram possível para nós refletir sobre o pênis de uma nova forma. Nós podíamos vê-lo como um instrumento de poder e/ou prazer. Podíamos nos abaixar entre pernas masculinas, nos abandonarmos em mistérios e levantarmos saciadas e satisfeitas com o entendimento que podíamos dar e receber prazer sexual. Podíamos expressar nosso incomodo em expressões como “chupetas” (blow job), a qual assumia que toda vez que chupássemos um pinto isso era uma espécie de trabalho que fazíamos somente para agradar aos homens.
Uma geração posterior, mulheres vivendo na nova cultura de liberdade que o feminismo e a liberação sexual produziram, iriam de início abordar o pênis ausentes de medo. Escrevendo sobre a chegada ao poder sexual na sua puberdade em Promiscuities, Naomi Wolf se recorda como rapidamente ela e suas amigas deixaram de pensar em “chupar pintos” como algo estúpido para passar a um interesse apaixonado: “Dentro de um ano, nós estávamos obcecadas. Nem tanto com o pênis em si... mas muito mais com o que eles eram – a improbabilidade deles, a bela bizarrice, a maneira que eles estranhamente cresciam por vontade própria e estranhamente desafiavam a gravidade, sua insondável responsividade.” Mas a conversa feminina sobre fascinação com o pênis frequentemente se limita as recordações da infância e puberdade. Não porque cessa-se de se encantar, mas porque os aspectos de encantamento do pênis perdem seu charme quando vinculados a estratégias de dominação masculina.
Embora feministas contemporâneas tenham trabalhado duro nos anos 70 para chegar a novas maneiras de falar a respeito de agência sexual feminina em relação ao pênis, novas palavras não caíram no uso geral. Mulheres individualmente davam engenhosos e bonitinhos nomes aos pênis de seus parceiros, mas no final de tudo, não houve uma revisão largamente aceita de como nós todas poderíamos ver e experienciar o pênis.
Naquela época e agora, mulheres falam sobre como as palavras usadas para descrever a genitália feminina são muito mais variadas e interessantes do que aquelas usadas para descrever os genitais masculinos. Lendo muita literatura erótica, tanto gay como heterossexual, fiquei decepcionada ao descobrir que ao final das contas, o pênis é ainda representado como uma arma, como um instrumento de indelicada e dolorosa penetração. Pensado em termos de força, seja em descrições de sexo consensual prazeroso ou sexo forçado e bondage (servidão/dominação), nenhum deles parece ter muito a dizer sobre o pênis que questiona e transforma a representação sexista. Identificar o pênis sempre e unicamente com força, como sendo um instrumento de poder, uma arma primeiro e acima de tudo, é participar no reverenciamento e perpetuação do patriarcado. É a celebração da dominação masculina.
Sem dúvida então que enquanto o feminismo progrediu, muitas mulheres anti-sexistas sentem ainda que não há formas de engajar o pênis que não reforcem a dominação masculina. Enquanto muitas feministas num ato político escolheram o lesbianismo ou o celibato como uma forma de resistir a subordinação sexual sexista e, consequentemente, não tem interesse no pênis, aquelas de nós que apreciam a paixão pelo pênis frequentemente nos encontramos silenciadas pela suposição que a mera nomeação de nosso prazer é traiçoeiro e apoia a tirania do patriarcado. Isto é simplesmente um erro lógico. Submeter-se ao silêncio nos torna cúmplices. Nomear como nos comprometemos sexualmente com corpos masculinos, e mais particularmente o pênis, em formas que afirmem a igualdade de gênero e posterior liberação feminista de homens e mulheres é um ato essencial de liberdade sexual.
Quando mulheres e homens podem celebrar a beleza e poder do falo em formas que não apoiem a dominação masculina, nossas vidas eróticas são melhoradas. Em um ensaio publicado na antologia Transforming a Rape Culture, escrevi como tive que mudar meu pensamento sexista a respeito do pênis – deixando de lado a fetichização erótica do pinto rígido penetrador, para abraçar uma erotização do pênis que era mais holística. Minha paixão pelo pênis se intensificou quando parei de pensá-lo somente em relação a performance, a penetração. Apreciei aprender como ser sexualmente despertada pela visão de um pênis não ereto.
Dando continuidade a tradição das primeiras feministas contemporâneas que eram defensoras da liberdade sexual, acredito que ainda precisamos ver mais imagens do pênis na vida cotidiana. Em uma contexto de prazer sexual mútuo enraizado na igualdade de desejo, há espaço para uma política da sexualidade que é variada, que possa incluir pintos eretos/duros, rough sex e penetração como demonstração de poder e submissão, porque estes atos não são intencionados a reforçar a dominação masculina. Mas sem este contexto sexual progressista nós acabamos sempre criando um mundo onde o pênis é sinônimo de negatividade e ameaça.
O presente risco à vida das doenças sexualmente transmissíveis tem sido usado por conservadores sexuais para reforçar sentimentos anti-pênis. Muitas mulheres voltaram a um temor do pênis que é praticamente vitoriano. A despeito da revolução sexual e da prevalência do pensamento feminista, não foi necessário muito tempo para que convenções sociais sexistas triunfassem sobre as novas maneiras de refletir sobre sexualidade introduzidas pelo feminismo e movimento gay. A visão do falo, sempre e unicamente, como um instrumento de força é conservadora e falha. Mas ela ainda reina suprema. Sinto-me desanimada quando leio literatura erótica lésbica onde todos os falos simbolicamente usados no jogo sexual são descritos usando um vernáculo sexista, reforçando a noção do falo, seja ele real ou simbólico, como uma arma. Claramente, nós devemos continuar o trabalho de criar uma fronteira sexual libertária, lugares onde o pênis seja apreciado e estimado.
Mudar a forma como falamos sobre o pênis é uma poderosa intervenção que pode questionar o pensamento patriarcal. Muitos homens sexistas temem que seus corpos percam significado se nós avaliarmos o pênis mais pela sacralidade da sua existência do que pela sua capacidade performática. Depois de um refeição romântica com um homem que capturou meu interesse sexual, enquanto estávamos sentados na minha sala de estar ouvindo música, pedi a ele que me mostrasse seu pênis. Ele respondeu em alarme. Encontrávamos completamente vestidos. Não estávamos engajados em preliminares sexuais, mas o clima era erótico. Ele pareceu alarmado ao pensamento do seu pênis sendo observado fora de um contexto de performance e quis saber porque eu queria vê-lo. Respondi que queria vê-lo para saber se iria gostar dele. Ele perguntou: “Você vai saber se vai gostar olhando pra ele?” Respondi: “Eu vou saber olhando.”
Compartilhei essa história com amigo/as, e todas às vezes homens e mulheres respondiam o quanto duramente eu tinha ameaçado a sua masculinidade. Creio que a noção de ameaça surgiu simplesmente porque eu estava reivindicando a primazia do olhar feminino, uma agência sexual feminina não informada por condicionantes sexistas que separaram prazer, no corpo masculino, da performance do pênis.
Retornando para a bem-aventurada noção de sacralidade do corpo, de prazer sexual, nós reconhecemos o pênis como um símbolo positivo da vida. Seja ele ereto ou não, o pênis pode ser sempre uma maravilha, uma vontade, uma varinha mágica. Ou ele pode ser associado a uma lagarta, como Emily Dickinson ternamente afirma: “Tão suave uma lagarta caminha - / Encontro uma sobre minha mão / Que mundo de veludo”
bell hooks é autora de Wounds of Passion, publicado pela Henry Holt and Company.
Penis Passion, bell hooks, Shambhala Sun, julho de 1999.
Texto traduzido do Blog do Kibe
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Esse texto é um pouquinho de mim
O patriotismo sempre me pareceu uma coisa monstruosa, ingênua e perigosa. Reverenciar um território que não é meu nem poderia ser; uma região que não diz nada à minha carne (nem poderia dizer!); uma bandeira que representa apenas os ideais nacionalistas dos donos de terra, industria, banqueiros e ao povo que acredita nos ideais dessas classes, passando a vida inteira lambendo sua deformações; uma língua regida e mantida como hegemônica à força de muita lágrima, muito sangue e sempre o suor do trabalho; um povo sempre covarde, sempre aberto, sempre risonho, sempre tolo, sempre disponível a não ser nada, a não se tornar nada, justificando esse nada com teorias de péssimo gosto e duvidosa reflexão (mas todo povo é assim e não somente o “brasileiro”: sempre bucha de canhão: sempre recheio de lingüiça: sempre esperança de dominação).
É sempre uma ignorância sem medida, uma inconsciência militante, uma aberração da vida. E perigosa! Falar contra aquilo que serve de cimento para a comunidade é sempre um perigo. A estupidez é profundamente perigosa. Não há uma ditadura que não faça sofrer a inteligência; não há um tolo que falte ao encontro e à circunstância de se tornar um torturador, um carrasco, um censor, um assassino em nome da pátria. Falta a tudo menos à defesa das burrices do mundo que o impedem de crescer e abrir os olhos. Há sempre uma reação constituída contra as idéias que “maculam o senso comum”. É por isso que não vale a pena morrer por povo algum, não vale a pena se sacrificar por nenhuma entidade criada somente para justificar a posse de um território e o exercício dos poderes nessa terra.
E essa ignorância passa e contamina o mundo inteiro. Tudo passa pelo mesmo critério. Deixamos de ver tudo aquilo que nos machuca para ver a “terra sem vulcões e terremotos”; o “homem cordial”; a “natureza privilegiada”; a “pátria amada”: vocês se calam na defesa de algo monstruoso e que jamais lhes pertenceu e jamais lhes pertencerá: exatamente essa entidade inexistente e existente somente com muita mentira, muita força bruta, muita cegueira: o brasil! Esse, não será jamais desses que reverenciam a bandeira e choram quando ouvem o nosso-hino e desejam o melhor para “o nosso país” e ficam contentes com o crescimento do PIB como se o PIB fosse deles! como se aquele dinheiro fosse deles! como se aquelas terras todas fossem deles! como se aquele hino e aquela bandeira fossem deles! como se aquela História (sempre uma historiazinha) contada pelos historiadorizinhos de província fosse deles! como se eles mesmos fossem deles e não de uma forma de exploração infame, gigantesca e insolúvel! É uma perversidade imensa e uma perversidade planetária! No fundo tentamos defendê-los da burrice mas eles se voltam contra nós como se tivéssemos esbofeteado suas bochechas sem vergonha.
Por isso e muito mais não sou brasileiro (jamais vendi o pau que vocês chamam de brasil), não sou nordestino, não tenho nada a ver com rondônias, com o norte, com o sul do país ou da nação: tudo isso e nada para mim é a mesma coisa. Minha língua não é o português, não é o russo, não é o espanhol, não é o inglês: não importa em qual língua se escreve ou se fala: ela é apenas uma circunstância: sua existência é ser traduzida e o que se traduz não é uma língua mas o que se aponta antes da língua, o que deseja depois da língua, o que corre como fogo por dentro dela. Esse fogo é a literatura.
Não me comove o país de vocês, não me interessa no sentido mais profundo do termo: é uma circunstância infeliz viver aqui e não ali ou acolá: em qualquer lugar é a mesma coisa, pesam os mesmos cretinos e os mesmos cretinismos. É impossível fugir. E não interessa fugir: é o enfrentamento que nos faz ser o que somos. Quem nada enfrenta e quem em tudo igual a todo mundo acredita jamais poderá compreender aqueles que podem viver sem viver, criar sem domesticar, descrer como maneira de continuar vivendo cultivando o não como a única maneira de sobreviver. Quem não se acostumou a pastar sente muita dificuldade em começar a comer capim, mas quem viveu sempre nesse regime sente muita dificuldade em levantar a cabeça e ver que existe algo além do campo e do verde eterno do chão dos pastos. Todos os que deixaram o mundo dos pais, dos professores, dos amigos, dos chefes, dos políticos, das mães, da mídia, das mulheres, das hienas e dos homens, do bom gosto e senso comum são os libertinos, os artistas que não deceparam seu espírito como se corta grama: quantos picaretas nessa terra de vocês se acham artista! Mas isso é outra história. É outro contra. Por enquanto abram os olhos: há uma nova espécie de nacional-socialismo sendo gritado o tempo inteiro como se fosse a coisa mais linda do mundo.
Alberto Lins Caldas