O
racismo no Brasil pelo olhar de quem veio de fora, por Fernanda
Polacow e Juliana Borges*
Discutir o racismo na sociedade brasileira sempre é um assunto controverso. Para início de conversa, uma parcela significativa da nossa população insiste em dizer que este é um problema que não enfrentamos. Somos miscigenados, multirraciais, coloridos. Como um país assim pode ser racista?
Discutir o racismo na sociedade brasileira sempre é um assunto controverso. Para início de conversa, uma parcela significativa da nossa população insiste em dizer que este é um problema que não enfrentamos. Somos miscigenados, multirraciais, coloridos. Como um país assim pode ser racista?
Foi
essa a pergunta que o angolano Badharó, protagonista do documentário
“Open Arms, Closed Doors” (Braços Abertos, Portas Fechadas), que
dirigimos para a rede de TV Al Jazeera e que será veiculado a partir
de hoje em 130 países, se fez quando chegou ao Brasil em 1997
esperando encontrar o Rio de Janeiro que ele via nas novelas.
Badharó
é um dos milhares de angolanos que vieram viver no Brasil. Depois de
fugir da guerra civil no seu país de origem, escolheu aqui como novo
lar – um país sem conflitos, alegre, aberto aos imigrantes e cuja
barreira da língua já estava ultrapassada à partida. Foi parar no
Complexo da Maré, onde está localizada a maior concentração de
angolanos do Rio de Janeiro.
Para
quem defende que o Brasil não é um país racista, vale ouvir o que
ele, um imigrante negro, tem a dizer sobre a nossa sociedade. Badharó
não nasceu aqui, não carrega nossos estigmas, não foi acostumado a
viver num lugar em que muitos brancos escondem a bolsa na rua quando
passam ao lado de um negro. Depois de 15 anos vivendo numa comunidade
carioca, ele tem conhecimento de causa suficiente para afirmar: “O
Brasil é um dos países mais racistas do mundo, mas o racismo é
velado”. O documentário segue a rotina deste rapper de 35 anos e
mostra o dia a dia de quem sofre na pele uma cascata de preconceitos,
por ser pobre, negro e imigrante.
Além
de levantar o tema do nosso racismo disfarçado, o documentário
propõe, também, uma outra discussão: agora que estamos nos
tornando um país alvo de imigrantes, será que estamos recebendo bem
esses novos moradores?
Com
a ascensão do Brasil como potência econômica e o declínio da
Europa, principal destino de imigração dos africanos, nos tornamos
um foco para quem não apenas procura uma situação melhor de vida,
mas para quem procura uma melhor educação ou mesmo um bom posto de
trabalho. São muitos os estudantes africanos de língua portuguesa
que desembarcam no Brasil. Segundo o Ministério das Relações
Exteriores, Angola foi o quarto país do mundo que mais solicitou
visto de estudantes no Brasil em 2012. Com esta nova safra de
imigrantes, basta saber como vamos nos comportar.
Europeus
e norte-americanos encontram nossas portas escancaradas e nossos
melhores sorrisos quando aportam por aqui, mesmo que estejam vindo de
países falidos e em situação irregular. No entanto, um estudante
angolano com visto e com dinheiro no bolso, continua sofrendo
preconceito. Foi este o caso da estudante Zulmira Cardoso, baleada e
morta no Bairro do Brás, em São Paulo, no ano passado. Vítima de
um ato racista, a estudante virou o mote de uma musica que Badharó
compôs para que o crime não fique impune. Isto porque tanto as
autoridades brasileiras quanto as angolanas não deram sequência nas
apurações e o crime segue impune.
A
tentativa de abafar qualquer problema de relacionamento entre as duas
nações pode afetar as interessantes parceiras comercias que existem
entre os dois governos. Para todos os efeitos, continuamos sendo
ótimos anfitriões e estamos de braços abertos para quem quer aqui
entrar.
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