segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dinheiro pra dividir... Não para separar




No dia 12 de novembro, comemoramos o Dia Mundial do Hip-Hop. Em meio aos poucos eventos especiais e celebrações dos 36 anos da cultura de rua e aos quase 30 anos do hip-hop brasileiro, muitas questões foram abordadas para pontuar quais mudanças significativas ocorreram no rap.

Se por um lado a estagnação econômica e a falta de espaço para eventos ainda são parte da realidade da cena rap brasileira, o respeito como arte transformadora que integra um movimento cultural e a veia política do canto falado são as principais conquistas desse elemento do hip-hop. Nestes 15 anos de internet no Brasil e, aproximadamente, 12 anos de mídia alternativa do hip-hop na web, parte da história do hip-hop foi registrada e revisitada graças ao avanço tecnológico, que foi seguido pelo barateamento do acesso ao meio digital. Muitos estilos foram desenvolvidos dentro do gênero rap, novos discursos surgiram e velhos problemas foram abordados. Diante do processo intenso de mudança sócio-econômica global e da transformação da produção musical vinda dos EUA, posturas e ideias mudaram, mas, ao mesmo tempo, foram fortalecidas as formas de resistência dentro da cultura hip-hop. Mudança e resistência dentro do movimento são fenômenos registrados em sites, blogs e redes sociais. Tensões internas e externas influenciaram e influenciam o jeito de se fazer rap no Brasil.

Atualmente, o cenário é diversificado, mas até que ponto chegou essa expansão? Essa diversidade é aceita como algo positivo para a cena hip-hop?

Era dos extremos

Do ponto de vista da comunicação, as relações entre os artistas do rap e a mídia têm se intensificado. MCs, DJs e suas assessorias articulam entrevistas e apresentações em canais de TV e fazem parcerias com grandes selos e gravadoras, fatos que mostram a possibilidade da criação de um mercado forte.

No passado, as relações de mercado foram pouco discutidas pelos artistas e militantes do hip-hop. Por ser um movimento de cunho político e social com viés periférico, a necessidade da remuneração do MC ou DJ, entre outros profissionais da cultura de rua, as negociações dos cachês e a importância da circulação do dinheiro de maneira sustentável, apesar de sempre existirem, eram questões pouco abordadas.

Atualmente, temos uma geração de artistas que afirmam que fazem dinheiro em todos os momentos da vida e aceitam o consumismo e o imediatismo como algo que já faz parte da realidade dos jovens brasileiros, vivendo uma versão brasileira do “I get money” dos rappers dos EUA.

Nosso hip-hop também abriga artistas empreendedores que lançam seus selos, criam empresas e comercializam seus produtos de maneira independente, mas não usam o sucesso financeiro em suas rimas. Grupos dos anos 1990, que são a base da cultura, voltam ao cenário graças ao ambiente mais favorável que a “Nova Escola” proporcionou com sua continuidade e criação diferenciada.

Apesar das diferentes formas de tratamento, todos os artistas reconhecem a importância do dinheiro para o fortalecimento do rap no Brasil. A busca pela profissionalização passa pelos caminhos do equilíbrio, da ponderação e da sustentabilidade. Entretanto, o que observamos é que a ideia do “rap verdadeiro” é utilizada por vários artistas e militantes como forma de dominação. Neste caso, o rap não é nada democrático, pois procura ditar o que tem de ser falado, como tem de ser falado e em que tipo de instrumental tem de ser feito. Resumindo, a diversidade é uma realidade, mas alguns (de diferentes épocas, escolas e posicionamentos políticos) não querem que ela exista. Não trato aqui do discurso característico do MC que prega a superioridade em suas rimas. A conversa é outra.

Impor apenas um estilo de rap em detrimento da diversidade é não aprender com a história, é negar tudo o que foi desenvolvido até aqui. É uma forma de deixar o circuito de shows, eventos e tudo o que fortalece a economia nas mãos (e bolsos) de poucos. Por enquanto, esse é um pedaço do futuro que estamos construindo.


Por Cortecertu

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