segunda-feira, 23 de abril de 2012

Tese de doutorado discute a noção de branquitude


Qual o lugar que os brancos ocupam nas relações sociais com os não brancos? Quais são as características dessa identidade sobre relações raciais sempre focam a figura do negro, Lia Vainer Schucman procurou inverter essa lógica e voltar suas atenções para o branco. Os resultados de sua pesquisa, orientada pela professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho, Leny Sato, foram defendidos em tese de Doutoramento em Psicologia Social, chamada: Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo”: raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana.

A ideia inicial era ter um espectro de pesquisa reduzido: psicólogos brancos. Mas, a partir de uma sugestão de sua orientadora, Lia resolveu pesquisar “a categoria ‘branco’ na heterogeneidade”, entrevistando desde donos de fazenda até moradores de rua. O amplo escopo da pesquisa permitiu observar diferentes aspectos da questão: tanto como os brancos formam uma identidade social em relação aos não brancos, como os indígenas e os negros, baseada em ideias de “superioridade” moral, intelectual e estética que muito devem às teorias sobre a raça e hierarquização dos grupos humanos do século 19, quanto o fato do grupo do branco ter suas hierarquias internas.

Diferenças internas e com outros grupos
Além da distinção entre os brancos e os não brancos, essas hierarquias dividem o primeiro grupo internamente. A pesquisadora menciona que, por exemplo, o branco nordestino está em uma posição socialmente privilegiada em relação aos negros, mas, dentro do grupo dos brancos, fica numa posição subalterna em relação àqueles de ascendência europeia. Assim, duas das categorias a serem pensadas na constituição da branquitude são a cor da pele, que diferencia o grupo em relação aos negros, e o “ideal de origem”, a crença de que se ascende de uma “população superior”, que faz clivagens entre o próprio grupo.

Lia fala também do que chama de “medo branco”: atitudes cotidianas por parte dos brancos que contribuem para a manutenção de uma estrutura que os privilegia em relação aos negros. Para ela, a branquitude é um dispositivo de poder, que é exercido nas mais diversas circunstâncias e camadas sociais. Por exemplo, um de seus entrevistados, dono de uma loja num bairro nobre da cidade de São Paulo, afirma não ter preconceito, mas não contratar funcionários negros porque seus clientes, brancos, não se identificariam com eles.

Ainda na questão do “medo branco”, outro fator discutido foi a suposta ambivalência do discurso racial brasileiro. Segundo Lia, ele só é ambivalente quando a igualdade se anuncia como uma possibilidade e os privilégios se colocam em risco. “O discurso de assumir o racismo não é um problema; todos assumem racismo”, explica. “Agora, quando que ele desmonta? Na hora de perder o privilégio, na hora de perder esse lugar da branquitude”, diz, em referência aos entrevistados que, embora assumissem privilégios por serem brancos, eram contrários a medidas como as cotas sob a alegação de que todos eram iguais.

Por Victor Augusto de Souza
victor.augusto.souza@usp.br

Agência Universitária de Notícias ECA-USP

20/04/2012

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