domingo, 1 de março de 2015

Vendido, egoísta e qualquer coisa mais.


Dizer que nunca fui a favor de padrões é clichê. Até porque qualquer processo de entendimento contra – hegemônico passa pela chamada desconstrução. Entender onde está inserido, quais são suas atitudes diante disso, o que te favorece, o que te desfavorece, enfim, contextos de atuações nos quais você tem que refletir, caso tenha essa chance, fazem parte do processo.
Tive chance da reflexão, de entender-me como oprimido, em alguns contextos como reprodutor de um discurso opressor e assim, fazer o que tem que ser feito para que todas essas infusões sejam aos poucos eliminadas do seu sangue, requer um esforço e dedicação próprios e consequentemente uma série de escolhas.
Escolhas que nos fazem questionar quem está do seu lado e porquê está inserido em determinada estrutura. Olhamos para o lado e vemos atitudes que não queremos mais reproduzir. Não podemos ignorar a vivência, o conhecimento e a cumplicidade, pois isso te fez ficar vivo até hoje, só que a desconstrução é cruel, porque as incompatibilidades aparecem e como aparecem.
Entender essa incompatibilidade é fundamental, doloroso, mas fundamental, pois a desconstrução das lógicas opressivas nos dão um novo patamar de tratamento com o próximo em que a aceitação e o entendimento de que precisamos de uma outra lógica de vivência é no mínimo libertador.
Tá, me desconstruí pra que mesmo? Que proposta de contra – hegemonia seria essa? Vamo lá! Sou homem preto, mira constante dos órgãos militares do Estado. Preciso sobreviver, e entendo que não farei isso sozinho, então me alio a todos que entendem o Estado Brasileiro como racista e mutilador do povo preto.
Como homem, percebo-me numa lógica machista de hierarquização com relação a mulher, e na especificidade, a mulher preta. Então, comecei a acreditar na horizontalidade da relação homem – mulher e homem preto – mulher preta.
Não acredito que a condição sexual seja pressuposto de poder. Aliás, o poder é um incremento coletivo de decisão para que as pessoas desenvolvam plenamente suas habilidades e interesses sem hierarquização.
Uso o rap e a escrita para passar a ideia contra – hegemônica. Anti – Racista, libertário e entendimento da África como berço da humanidade, como o real velho mundo. Sou preto e a favor da autonomia do meu povo. E se for pra morrer, que seja esmagado pelos muros, mas lutando sempre.
Se isso me torna vendido, egoísta ou qualquer coisa mais, então muito prazer, sou Fábio Emecê.



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