DA SUPRESSÃO DA DOR NO RAP
Por Arthur Moura
Existindo
como um discurso cético a cerca das multiplicidades da realidade,
apesar de possuir uma estética que não se apresenta assim, o rap
independente (ou underground) camufla-se com tinturas libertárias
principalmente por vender uma ideia de produzir um contestamento social
contundente e incisivo na sociedade.
Mas o que ocorre é que dessa forma,
inviabiliza-se a denúncia contra o opressor pelo fato de reproduzirem o
discurso daqueles que os oprimem. Os modelos de ascensão, que é ativado
quando se conquista determinado prestígio na cena, anunciam práticas
que se afirmam através de ações coercitivas.
Como, por exemplo,
construir parâmetros ideológicos de conduta onde a veneração ao MC serve
como ferramenta para este aplicar seus valores a fim de possuir o
controle e afirmar seu projeto político.
A forma como o eu-lírico se
apresenta, de que forma desenvolve seu discurso e se afirma na sociedade
são peças importantes para evitar certos hiatos em nossa compreensão.
Por isso, devemos nos atentar para as consequências que o esvaziamento
político, do qual o rap hoje sofre, vai acarretar para que estes
continuem se afirmando como tal.
Se práticas que reproduzem uma
sociedade de consumo despossuída de desejos mutáveis e diversos são os
parâmetros de uma cultura que se afirma libertária, temos que propor uma
reavaliação convocando, inclusive, aqueles que se interessam por
enriquecer o debate.
Partimos do princípio de que a forma que antes
portava a dor, a angústia e a potência de mudança que todo esse acúmulo
proporciona, esta forma transmutou-se ao ponto de suprimir a dor pelo
desejo de consumo.
Consumo de ideias ideais, novidades, posturas,
discurso, moral, conduta, controle, doutrina. A dor foi camuflada,
esvaziada e sua aparente força recuou-se. O discurso agora opera na
órbita do fascínio e do desejo.
Da postura radical corporal e
despotencializada na sua fala. A potência direcionou-se para a
fabricação das sensações que contemplam o prazer e o gozo.
A satisfação
da construção do eu-lírico transmutou-se no norteador de sua postura
política. Nesse contexto, o rap não disputa, mas apresenta-se como
somador de forças dessa normalidade mais palatável que sentimos
cotidianamente.
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