Por Fábio Emecê
O que
estamos pensando atualmente quando se trata de Hip Hop? E o que não
estamos pensando?
Questões
de contingência a parte, a diluição de atos informativos não
permitem que nós tenhamos consistência diante que está acontecendo
diante de nossos olhos. O que tá acontecendo, mesmo?
Construção
de referência! Talvez seja o grande legado do Hip Hop Brasileiro.
Jovens, pretos relegados a segundo, terceiro plano em nível de
assistência estatal, descobrindo em forma artistíca a
reivindicação e posicionamento político como fundamental para o
enfrentamento.
Entenda
isso como pessoas que não aceitam exatamente a normatização
escolar, institucional e midiática e começam a evidenciar essa
insatisfação. E não só isso, propõe novas formas de enxergar e
viver no território, inclusive com a alusão a boicote de marcas que
não os favoreciam e sempre atrelando o conhecimento como fundamental
no processo de sobrevivência e vivência.
Lembro do
brilho dos meus olhos quando descobri pessoas parecidas comigo,
expressando seu descontentamento diante do caos sistêmico, através
do Hip Hop e internalizar: era isso que precisava. Precisava pra
gritar, ajudar, propor, enfrentar.
Consequências
plausíveis dessa aceitação: Ser preto, deixar o cabelo se
desenvolver, assumir a paixão pelos livros, enfrentar a timidez,
olhar nos olhos do outro e viver em coletivo.
O
conhecimento que tive, aderindo ao Hip Hop está se diluindo? Sei lá,
há um descrédito em relação a se ter uma manifestação artística
a favor daqueles que estão na parte de baixo da balança. Como se
essa manistestação estivesse por demais saturada de defender
aqueles que são indefensáveis.
Como se
fosse obrigação aceitar que as pessoas tendo acesso ao consumo e ao
bombardeio de informações é suficiente para ser formar bons
cidadãos e para se alcançar esse patamar, depende basicamente de
seu esforço individual. A famosa tríade foco, força e fé se torna
mantra e esconde toda a perversidade de aceitar que o topo só é
para alguns e quem não está no topo é porque não se esforçou o
suficiente.
Sei lá,
aprendi outra coisa com os mesmos que hoje dizem que temos que
amenizar e aceitar as vantagens que o sistema oferece. Penso que
aceitar essas vantagens é compactuar com o extermínio físico e
psíquico da nossa juventude e ser tolerante e até mesmo achar
normal o que acontece é perceber que a identidade, justamente a
nossa identidade, não importa muito, desde que estejamos cercados de
holofotes e badaluques.
Sinceramente,
não é que quero pra mim, não é que quero pros meus, não é que
almejo pra minha arte. Mesmo sabendo que meu olhar é meu olhar e se
tem uma particularidade nisso, penso na fala do Doutor em Geografia
Milton Santos, perguntado se ele tinha conseguido alcançar o que ele
queria, ao final da vida, se ele tinha se tornado um cidadão.
Enfático, disse que ele não era cidadão porque os semelhantes a
ele não o eram.
O topo é
pra todos e se todos estiveram no pódio e o mesmo não aguentar, que
se caia e que todos estejam na horizontal. Precisamos de um
contra-ponto, precisamos de uma resposta e de entendimento que toda
cultura periférica é gerada para que o periférico tenha voz e
poder. E ter voz e poder é significamente empoderar e amplificar seu
semelhante.
Se o Hip
Hop tá fugindo disso, tá na hora de mostrar que existem mulheres e
homens que ainda acreditam. Eu acredito e você?