Pense:
ignorar o espírito fascista e conservador não tem como mais, assim
como tentar entender os interesses por trás disso pode ser
fundamental para se poder ter um posicionamento que defenda nossa
proposta de vivência e autonomia.
Já
travei embates com um amigo sobre propostas de emancipação e
difusão de ideias sobre autonomia e vivência dos nossos. Sou preto,
do Hip Hop e assim como o amigo, temos propostas contra -
hegemônicas, ou seja, não acreditamos numa proposta de imposição
do capital com suas opressões como modelo a ser reproduzido.
Em nossas
angustias, afirmava que o Brasil é um país conservador, as pessoas
são conservadoras e temos uma construção histórica que defende
privilégios e os movimentos para defender esse privilégio sempre
são violentos.
E
dependendo da nossa origem e matiz, o trauma e a violência sempre
nos acompanha, com participação efetiva do Estado e suas esferas.
Pois bem, o fim de semana foi movimentado, com defesas de ideais
democráticos e críticas severas ao atual governo federal.
De
pedidos de reforma política a intervenção militar, multidões
invadiram o espaço estigmatizado da rua para falar e dar suas
supostas opiniões. Atos truculentos fizeram parte? Incoerências
históricas fizeram parte? Reinvindicações que beiraram o ridículo
fizeram parte? O sistema binário de proposições tomou conta? Tudo
isso e mais um pouco.
O que
talvez não tenha entrado em jogo de maneira tão efetiva é pra onde
vai o povo preto e pobre brasileiro, achatado nas periferias e sendo
vigiado e exterminados pelas forças militares, seja oficialmente ou
milicianamente.
As vozes
dessa parcela populacional precisam ser ouvidas de fato, e não só
ser ouvidas, precisam ser entendidas. Vivemos em nossas redes de
solidariedade, mesmo com as sabotagens precisas do Estado Democrático
de Direito. Afinal, quantos traumas são precisos diante dos tiros na
nuca e dos autos de resistência?
Um corpo
arrastado pelo asfalto e filmado não minam de uma vez a vontade de
nosso povo, ainda fazem essa parcela viver e criar mecanismos de
legitimação de vozes e pensamentos que passam longe dessa discussão
binária. Viver, se alimentar, ter uma casa e chegar no lugar
almejado sempre foram pautas significativas que transpassam o
Marxismo e o Neoliberalismo.
Lógico
que essas ideias (Neoliberalismo e Marxismo) são diluídas na
periferia, mas e aí? Se esse povo se mobilizar para se garantir o
que eles sempre garantiram pros seus e ainda por cima, começarem a
entender o sentido de autonomia e fortalecimento real dos seus, o que
vai sobrar da direita e da esquerda?
A
democracia burguesa sempre produziu traumas pro meu povo, seja
esquerda ou direita no poder. Um ponto a se considerar. Os militares
fazem incursões certeiras, precisas e corpos continuam sendo
estendidos na periferia, não importando a legenda partidária,
pensando no pacto federativo como máxima. Outro ponto a se
considerar. Um discurso quase único que perpassa os meios midiáticos
tradicionais. Mais um ponto a se considerar.
Quero uma
lógica sem traumas, sem genocídios, com autonomia e vivência plena
do povo preto. No Brasil ainda não é possível. Aliás, nunca foi
possível. Seria possível com a reforma política? Tenho minhas
dúvidas, mas tenho certeza que nem dia 13 e nem dia 15 me
representaram. Nem a mim, nem o Rafael Braga, a Cláudia, o DG e
tantos outros...